Teens fazem mais cirurgias da obesidade
Adolescentes representam 5% das 30 mil reduções de estômago realizadas aqui; médicos divergem sobre indicação
Tendência é o aumento desse público, dizem especialistas; riscos do procedimento a longo prazo são ignorados
IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A indicação de cirurgia para obesidade em adolescentes está crescendo no Brasil,
mas ainda está longe de ser
consenso entre especialistas.
Cinco por cento dessas
operações já são feitas em
menores de 20 anos. Em
2009, foram realizadas 30
mil cirurgias bariátricas no
país, segundo Thomas Szego, presidente da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.
Explicam essa alta tanto o
aumento da obesidade na
população quanto o aperfeiçoamento das técnicas que
tornaram o método mais seguro, de acordo com Szego.
Como a legislação brasileira só permite a cirurgia a partir dos 16, esse número poderia ser ainda maior.
Para uma parte dos especialistas, aumentar as indicações é uma tendência.
"Vamos discutir as diretrizes no próximo encontro brasileiro de endocrinologia pediátrica", conta Paulo César
Alves da Silva, da Sociedade
Brasileira de Endocrinologia
e Metabologia.
Um dos pontos mais polêmicos sobre a cirurgia em
menores de 20 anos é a falta
de dados sobre os efeitos a
longo prazo. "Isso a gente
não sabe, mas sabemos dos
riscos da obesidade. A cirurgia é uma opção que vale a
pena", afirma Silva.
As normas brasileiras determinam que a cirurgia só
pode ser feita em casos de Índice de Massa Corporal acima de 40 e com a presença de
doenças associadas como
diabetes, hipertensão etc.
A equipe médica e os pais
ou responsáveis devem assinar um documento declarando que concordam com o
procedimento.
Para Arthur Belarmino
Garrido Jr., coordenador da
Unidade de Cirurgia da Obesidade do Hospital das Clínicas de São Paulo, os riscos da
cirurgia em adolescentes são
similares aos dos adultos.
Porém, há médicos que
apontam para características
específicas dessa faixa etária
que complicam o tratamento
cirúrgico da obesidade.
DOENÇA CRÔNICA
"A pessoa ainda está em
fase de crescimento e podemos estar trocando uma
doença crônica [a obesidade]
por outra [desnutrição], sem
saber o que vai acontecer
mais tarde", pondera Rosana
Radominski, presidente da
Abeso (Associação Brasileira
para Estudos da Obesidade e
da Síndrome Metabólica).
"Mutilar o aparelho digestivo em quem está em crescimento não é bom. Antes de
partir para a cirurgia, eu tentaria o tratamento clínico para emagrecer pelo menos
duas vezes", afirma o pediatria e nutrólogo Fábio Ancona Lopes, professor da Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo).
As questões psicológicas
de uma operação que promove o emagrecimento ultrarrápido são ainda mais importantes na adolescência.
"Essa é a idade em que se
manifestam vários distúrbios
psiquiátricos, especialmente
os transtornos alimentares. É
perigoso reduzir o estômago
se o problema de base não for
tratado", analisa o psiquiatra
Carlos Henrique Rodrigues
dos Santos, do Grupo de
Doenças Afetivas do Hospital
das Clínicas de São Paulo.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd2807201001.htm
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